"A verdadeira viagem não está em sair a procura de novas paisagens, mas em
possuir novos olhos" (Marcel Proust)







quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sarna a bordo!

Algumas semanas antes de descobrir a data do meu primeiro embarque, conheci uma pessoa na internet que trabalhava no porto do Rio de Janeiro. Ele falou que jamais teria coragem de embarcar por conta das medidas de higiene, e me convenceu a imaginar todos os tripulantes e passageiros conectados pelo sistema de ar condicionado, ou seja, o risco de contaminação era máximo. Não tenho dúvidas sobre os cuidados da chefia a bordo quanto a inspeção de cabine, por exemplo, mas outra coisa que aprendi nessa vida é que “tudo não é o suficiente”. Já falei isso antes?
Ao contrário do que percebi quanto as instalações do MSC Orchestra, no MSC Armonia encontrei tudo sempre em reparos. O departamento de engenharia não tinha folga mesmo, independente se fossem lâmpadas ou maquinário. Para mim, como tripulante, senti o problema na pele também. Não foi diagnosticado escabiose, mas de acordo com a enfermeira, a minha pele teve uma reação alérgica à água. Até que eu me adaptasse ao novo navio, precisei banhar-me com água engarrafada e camomila. A minha roommate assustou-se ao encontrar garrafas d’água dentro do banheiro, achou que eu já estava na fase dos “surtos a bordo” – papo para outro post.  
O que aconteceu no navio MSC Armonia com os 23 brasileiros desembarcados com escabiose não me surpreende. Aliás, não é surpresa pra qualquer ex-tripulante. Entretanto, há casos e casos. Primeiro, não se sabe como aconteceu a transmissão. O navio estava em dry-doc, o que significa que ele estava aportado por algumas semanas em reparos na mesma cidade, e os tripulantes tinham sim mais liberdade de ir e vir. Não podemos deixar de pensar na possibilidade da doença ter se espalhado a partir de um contato corporal mais íntimo. O que quero explicar aos meus leitores é que coisas assim são fatalidades que podemos evitar, mas que no entanto independem do lugar. Apenas uma minoria deixaria de fazer um itercâmbio, por exemplo, só porque não conhece o sistema de saúde de tal cidade.
Em algumas notas e matérias pela internet, encontramos discussões sobre direitos humanos e trabalhistas. Como já disse uma colega blogueira que já viveu em alto mar, os gregos acreditam que existem três tipos de homem: o vivo, o morto e o marinheiro. As pessoas costumam duvidar, mas a vida a bordo é completamente diferente do sistema de leis e regras que temos em terra. Essa conversa bonita sobre “direitos humanos e trabalhistas” não funciona quando estamos tratando de um modelo neo-escravista.
Sábado, dia 30 de abril, foi transmitido pelo Jornal Nacional (Rede Globo) a cobertura dos fatos. Independente da forma como se deu o diagnóstico, ficou evidente o abandono, negligência e total descaso da empresa quanto aos tripulantes infectados.  
Abaixo, segue a matéria.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Alimentação de tripulante – A máfia da comida

Findadas as dúvidas em outros posts, já é de conhecimento geral o abismo que separa a comida dos passageiros do que é servido nos bastidores. Imagino a curiosidade de todos em saber o que acontece com o que sobra no buffet e no restaurante a la carte. Diariamente, toneladas e toneladas de comida passam por um processo de limpeza e trituração até serem despejadas no mar, a milhas de distância da costa. O mesmo acontece com o lixo e dejetos. Não sou especialista nisso, mas é bom saber que existem várias leis em favor do meio ambiente determinando os tipos de resíduos, a espessura que devem estar após triturados, e a que distância devem ser largados.
Por mais absurdo que pareça, alimentação é um dos tópicos mais polêmicos a bordo. Para começo de conversa, é proibido conservar comida na cabine. Havendo inspeção, e dependendo do que possa ser encontrado, é uma advertência propícia ao desembarque. O ideal é que a alimentação servida no Crew Mass (estilo self-service) fosse adequada. Infelizmente, nem o menos dos exigentes com comida aguenta muito tempo em pé sem correr à lanchonete mais próxima do porto, ou apelar para complexos vitamínicos. Para os que trabalham no buffet e restaurante é mais fácil lidar com a situação. Contanto que não sejem pegos por um oficial ou superior - e estes costumam ser nada compreensivos - é possível comer disfarçadamente dentro da pantry (despensa de navio). Aos que não têm esse acesso, existe o sistema da máfia da comida. Seja por amizade, influência, ou troca por outro tipo de máfia, é bastante comum tal irregularidade.
Dentro dos bolsos, por debaixo das calças e saias, amarrada nos tornozelos, em saco de roupas sujas, não importa a forma. Os tripulantes evoluem com novas idéias e maneiras de transportar comida – entre outras coisas – e, como já dizia Goethe, provando que “Poderosa é a lei; mais poderosa, contudo, é a necessidade”.   

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Break/Time Off


Relembrando o que foi esclarecido nos primeiros posts, não existe dia de folga (day off). Principalmente nos momentos em que o navio está em alto mar, todos os setores estão em plena atividade. Aos que não possuem familiaridade com a linguagem desse sistema de trabalho, Break é considerado o espaço de tempo entre um turno e outro. Pode ser de 10 min, ou de 4 horas. Se não há interferência no cronograma, esse período é contabilizado apenas como uma pausa.  
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Em alguns departamentos os tripulantes costumam trabalhar as 11 horas quase que ininterruptas, com direito a uma ou duas horas de break. Por vezes, isso acontece de forma fatiada (30 minutos aqui, 30 minutos ali), fato bastante comum nos cargos relacionados à limpeza e no Buffet. Nos departamentos Bar e Restaurante os breaks são considerados mais interessantes, até porque a schedule (cronograma) não costuma ser fixa. Então, no caso, depende mais da chefia e da sorte.
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Por outro lado, aos que embarcam com o desejo de aproveitar a possibilidade de trabalho versus conhecer o mundo, fico feliz em dizer que existem os considerados presentes divinos: Time Off. "Capo, por favor me libera pra descer no próximo Pireus!", é um exemplo de frase que faz parte do cotidiano de um tripulante. É raro a chefia tomar a inciativa de te liberar da lavoura, mas isso também existe, e você pode conseguir a graça de trabalhar umas horinhas a menos. Algumas pessoas fazem boas relações a bordo, conhecem chefias com influência e a vida pode se tornar bem mais agradável (em alguns casos, apenas suportável). Mas é sempre bom checar a custo de quê vem essa troca. Ninguém quer sair de casa João e voltar Joana, ou mudar de nome pra Madalena por conta de, deixe-me lembrar, "horinhas a menos". É difícil julgar, costumo dizer que para manter os valores morais intactos e não ofender ninguém, o melhor é sair pela tangente. É uma estratégia da qual a técnica só a vida ensina. Como boa aluna que sou, aprendi.

terça-feira, 5 de abril de 2011

A título de registro - Dança do cogumelo na Espanha

Dando uma geral nos meus arquivos, encontrei um video curtinho feito por mim em Málaga (Espanha) e senti uma enorme vontade de compartilhar com vocês. De fato, pretendo falar mais sobre os países por onde passei enquanto estive a bordo, então considerem isso uma prévia. Nesta "obra cinematográfica" (pausa para risadas), apresento muito resumidamente a Catedral de Málaga. E sinto muito aos que gostariam de mais detalhes - fiquei dando voltas com a cabeça procurando por uma placa informativa - o jeito é apelar ao pai dos distraídos, Google.
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Para compreender o subtítulo da postagem, só conferindo o video. De antemão, agradeço ao dançarino pelo entretenimento.



Sign Off

Algo que muitos temem - e outros procuram - é o desembarque precoce. A expressão "Sign Off" tem como significado pedido de desembarque, e isso pode ser solicitado pelo tripulante por motivos pessoais, ou quando o mesmo acata a decisão tomada pela gerência de se retirar do cargo. Outra forma de Sign Off da qual os tripulantes são obrigados a assinar, é quando a pessoa em questão atinge a quota máxima de Warnings (advertências) expressa no manual de regras a bordo.
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Outro "Parênteses":

Por motivos que eu prefiro não revelar no momento, e infelizmente não dá pra adiar mais, venho aqui anunciar que estou novamente em casa. Infelizmente as coisas não acontecem sempre como planejamos, e depois de uma semana a bordo estou de volta. Imagino inúmeros pontos de interrogação, e confesso que não tenho resposta pra tudo. Quando ficar claro se vou embarcar novamente ainda nesta temporada, ou não, eu aviso. Por enquanto, evitarei falar a respeito ou iniciar as minhas divagações filosóficas, incluindo pensamentos que começam com o "nada acontece por acaso". Desejo a compreensão de todos, e obrigada pela torcida!

quarta-feira, 30 de março de 2011

Abrindo "Parênteses"

Aos distraídos, "Parênteses" é um quadro especial onde falo sobre o meu embarque atual. Recaptulando, de fevereiro a outubro de 2010, realizei o meu primeiro contrato como Bar Waitress. Depois de passar dois meses no MSC Orchestra, fui transferida para o MSC Armonia, onde estive por mais um semestre. Fiquei em casa por quase seis meses, e agora estou no MSC Música fazendo o cruzeiro de travessia para a Europa, desta vez como cantora.
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Obviamente, não foi de paraquedas que eu caí nessa profissão. Estudei quase dez anos de técnica vocal italiana e tive várias experiências musicais marcantes, apesar de nem todas terem sido bem - ou até mesmo - remuneradas. Quando atingi a maior idade, deixei a música em segundo plano e passei a priorizar a minha graduação em Comunicação. Costumo pensar que, cantor que é cantor, independente de tempo e local expressa-se cantando. Tanto em momentos tristes como felizes, cantar chega a ser involuntário. Foi assim que as pessoas a bordo perceberam que eu dava voz a canções de forma semelhante a um profissional, até descobrirem que eu fazia parte deste meio. Desde então, a esperança de acordar a "música" que dormia dentro de mim me fez pausar o resto dos meus planos, e dar a mim e a "ela" uma nova oportunidade de seguir juntas.

Parênteses I: Novamente a bordo


Já fazia muito tempo desde meu último tranquilo sono. Aguardar uma data de embarque é o mesmo que esperar o resultado daquela tão esperada entrevista de emprego. Você fica de olho no telefone e na caixa de e-mails, roendo as unhas de tanta ansiedade e chegando a pensar que talvez seja a hora de aplicar o plano B. A princípio, o combinado era que eu embarcasse no porto da minha cidade. Sim, a última parada do MSC Música antes de fazer a travessia para a Europa será em Fortaleza, dia 2 de abril. Infelizmente, de acordo com o que me fora informado - e pelo que entendi, as autoridades locais não permitem alguns tipos de embarque naquele porto. Ou seja, tive que seguir ao Rio de Janeiro para conseguir embarcar.
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Diante de tantas adversidades que a vida impõe, as piores são as que o nosso pessimismo energiza. Então, mesmo quando a mudança não for tão boa quanto se espera, o melhor é encarar o fato como uma chance de novas possibilidades. Foi dureza aprontar tudo em cinco dias, mas deu certo. Dia 25 de março (2011), coloquei minhas malas no carro e fui comemorar junto da família e amigos a minha nova aventura. Parando pra pensar, agora até me considero corajosa.
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Depois de muitas despedidas, e agradeço novamente aos que não deixam de me pretigiar, embarquei num vôo para a "cidade maravilhosa" (com conexão em Brasília). Fui na janela (foto), mas fiquei frustrada porque o lado que eu estava não era o do que o sol nascia. Em Brasília, um rapaz surtou no aeroporto gritando escandalosamente que ia derrubar o avião com uma bomba. Fiquei indignada como a segurança do local e a Polícia Federal demoraram a agir. Se o sistema é falho na capital do Brasil, imagino o que deve acontecer pelo resto do país. E ele ainda dizia "Me prendam! Venham me prender!".

                                /por Gabriela Santana
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Aterrissando no Aeroporto de Santos Dumont, fiquei impressionada quão próximo ele é do porto. Encontrei-me com uma prima querida e seu namorado, visitei o apartamento deles e demos algumas voltas na Lapa. Geralmente, quando se pega um vôo pela madrugada veste-se roupas mais quentinhas. Entretanto, eu sabia que ia estar calor quando chegasse no Rio, sendo assim, coloquei uma bermuda, uma camisa leve e calcei uma sandália confortável. Para aquecer, um casaco básico foi o bastante. Estava frio, mas dava pra sobreviver.
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A última vez que andei nas ruas do Rio de Janeiro, tinha apenas 15 anos. Lembro que optei por festejar meu aniversário no Rock in Rio (2001), ao invés de ter algo tradicional. Confesso que não curti aquela multidão de 250 mil pessoas, e nem o excesso de cuidado ao caminhar pela cidade. Por outro lado, passear a pé pelo centro com os meus "guias" foi realmente fabuloso. Observei tudo com uma nova perspectiva.
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Já era sábado, dia 26 de março, quando subi a bordo do MSC Música. Como já tenho a experiência do contrato anterior, não havia nada de muito novo. O peso da mala, só percebi realmente quando tive que arrastá-la do hall do porto até a gangway do navio. Daí, lembrei que no check-in foi registrado 11 kg de sobrepeso. Fiquei pensando quem era que eu estava carregando dentro da minha bagagem - muita gente se ofereceu pra estar dentro dela!

Alimentação de tripulante


Confesso que, a princípio, considerei a comida razoável. Logo no segundo dia do meu primeiro contrato, conheci um rapaz que se serviu no Crew Mass (refeitório dos tripulantes) com seis pães e manteiga. Perguntei por que não tentava ao menos experimentar as outras opções, e ele apenas respondeu: "Você vai entender quando alcançar o sexto mês a bordo". Nem precisou esperar tudo isso pra captar a mensagem. Cheguei ao ponto de comer pão com alface e catchup, uma refeição inesquecível.
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Costumava soar irônico quando um passageiro afirmava que comíamos muito bem, acreditando piamente que nossa refeição era a mesma da servida no buffet. Felizmente, olhando numa perspectiva positiva, o contraste da comida de casa com a que temos a bordo contribui para quem precisa de dieta (meu caso!). É bem raro encontrar alguém que não perdeu peso seguindo à risca o menu destinado ao tripulante. E falo isso de um modo geral, os comentários são os mesmos independente da companhia que se trabalha.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Nota no Jornal O Estado - CE

Hoje, saiu uma nota no jornal O Estado (CE) sobre a minha partida. Ainda não contei à todos, mas durante o meu embarque como garçonete conheci algumas pessoas que gostaram da minha voz, e me ajudaram a realizar este novo contrato como cantora. Nessas horas em que o destino dá uma forcinha, temos muito o que agradecer a Deus. Sendo sorte ou benção, nada acontece sem esforço e fé naquilo que está se propondo a realizar. Acreditar que é possível atrai energias positivas, nunca esqueçam disso. Abaixo, segue a nota digitalizada. Obrigada também ao colunista Flávio Torres.  



quarta-feira, 23 de março de 2011

Rotina - Parte II

No cronograma constava que eu deveria começar ao meio dia no El Sombrero, o bar mais movimentado da piscina. Como o meu uniforme estava no alfaiate para ajustes, a Bar Secretary enviou-me ao buffet La Piazzeta. Adorei a idéia porque o clima lá fora estava no botão "fogo alto", no ápice mesmo do calor. Ainda faltavam trinta minutos até que abrissem o local para os passageiros almoçarem, dando tempo de conversar com o Bartender indonesiano a quem eu deveria me reportar, além de relembrar como se mexia no Micros. Logo apareceu uma garçonete brasileira que me mostrou como se dava o serviço por ali, e que diferente dos outros bares do navio o Piazzetta não servia drinks e cocktails. O ambiente era dividido em duas estações, sendo uma de responsabilidade do nosso departamento, e a outra dos Waiters do restaurante. Depois dela afirmar que estávamos na melhor sala de aula para se acostumar com o serviço, e eu comprovei a veridicidade da informação, passei a ver com outros olhos o incidente relativo ao fardamento. Os passageiros vão para almoçar e fazem pedidos simples, entre sucos, refrigerantes, água e cerveja. "Com, ou sem gelo" é a única coisa da qual precisava me lembrar de perguntar.
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Entre 15h30 e 16h, o buffet fechava. Independente de estar escrito no cronograma que eu deveria ficar até ás 17h, por exemplo, era comum sermos remanejados. Como o MSC Orchestra é um navio enorme e repleto de bares, e não sei dizer até que ponto tratava-se de desorganização da chefia, cheguei a trabalhar em mais de seis num só dia. Ás vezes, era enviada a um local desnecessariamente e o Bartender me pedia para retornar. Aos poucos fui perdendo a inocência em acreditar que o Bar Manager preparava a schedule de acordo com o tipo de cruzeiro, observando os focos de maior movimento. O que ele utilizava mesmo era o famoso Ctrl+C e Crtl+V, deixando o sufoco do remanejamento para os Assistants. Mesmo não tendo o uniforme da piscina, e este assunto já era de conhecimento geral, meu nome continuava na planilha do El Sombrero confirmando a estranha negligência com a elaboração dos horários de toda a equipe do departamento. Parando pra pensar, em tese, se eu estava no Sombrero a minha ausência era um desfalque, então eles chamariam de outro bar uma pessoa para ocupar a lacuna. O problema é que este alguém também sairia de onde estava escalado. Resumindo, a crise era cíclica.  

segunda-feira, 21 de março de 2011

O tic-tac dentro do navio

Na vida de um tripulante não existe dia da semana, e nem calculamos o tempo de modo convencional. Durante a temporada no Brasil, por exemplo, sabia-se que o navio aportava em Santos aos sábados, dias de embarque e desembarque. As noites de domingo destacavam-se por conta da festa do comandante (Captain's Party), que para nós significava "uniforme de gala" e a possibilidade de passar uma eternidade segurando bandejas com 18 copos, entre taças de espumante e martini. No período em que estávamos na Europa, conto nos dedos de uma só mão quem conseguiu visitar Corfú (na Grécia). É que todas as quartas-feiras tínhamos o General Drill - Exercício de Emergência Geral obrigatório aos tripulantes -, e este acontecia pela manhã quando a maioria dos passageiros estavam conhecendo a cidade. Geralmente, um navio de cruzeiro fica atracado durante o período da manhã ou da tarde (raramente os dois juntos), e o Drill começava exatamente por volta de 10h30 am, demorando tempo suficiente para nos aprisionar. Era quase impossível sairmos. Felizmente, particularmente a Grécia não me interessava. Depois de passar por Atenas, considerei minha dose de templos satisfatória, decidindo não mais sair com tanta frequência nesta região.  
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Outra coisa que nos recordava em qual dia da semana estávamos era o Daily Cocktail, a bebida promocional do dia. O passageiro perguntando, é um verdadeiro mico "indo e voltando" não saber. Se de supetão alguma chefia te pega sem ter a resposta, inclusive os ingredientes do drink e da garnish (enfeite do cocktail), o resultado ultrapassava o "pega no pé". Dependendo do Manager, é marcação cerrada mesmo, e com toda razão. É natural ter algum desprezo pelo chefe, e não me interpretem mal, isso existe em qualquer empresa e emprego. Mas o que não entendemos, e no navio a "revolta" era maior pela pressão de não ter aonde extravasar, é que devemos nos responsabilizar por nossos erros e negligência. Claro, a bordo não existe história de conversinha no Rh (setor de Recursos Humanos), então o efeito costuma ser aniquilador.          
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Logo que embarquei, descobri uma excelente maneira de contabilizar os dias até que meu contrato findasse. Trata-se de um cronograma que enumera os cruzeiros, o que veio bem a calhar aos distraídos como eu. A bordo, é bem comum as pessoas inciarem frases com um "No cruzeiro passado", ou "Faltam três cruzeiros para o meu desembarque", e ainda "No cruzeiro temático 'tal'". É um estilo peculiar de avaliar o tempo, no entanto o esperado, já que todo o cotidiano de um tripulante está condicionado à rotina do navio.

sábado, 19 de março de 2011

Caros amigos e leitores

Notícias de última hora!

Aqui, desejo abrir parênteses em meio à história do meu primeiro contrato com a MSC Cruzeiros, e informá-los que novamente estarei em alto mar. No dia 26 de março, próximo sábado, viajarei para a cidade do Rio de Janeiro onde embarco no MSC Música, um dos maiores navios da frota. No dia 29, ainda deste mês, inicia-se o cruzeiro de travessia rumo ao Mediterrâneo, onde serei transferida para o MSC Splendida. Imagino que devam estar curiosos sobre qual será minha função e se vou dar continuidade ao blog. Sim, durante o processo não me descuidarei de dá-los informações quentíssimas sobre tudo o que estará rolando. Por enquanto, desejo focar os textos na minha trajetória como Bar Waitress, então, aguentem a curiosidade e me desejem sorte! Obrigada à todos que têm me acompanhado, e aos navegantes de primeira viagem, sejam bem-vindos! 

sexta-feira, 18 de março de 2011

Rotina - Parte I

Não chega a ser proibido andar pela área de tripulantes sem o uniforme, entretanto, em alguns locais como o refeitório isso não era permitido. Entre as regras para quem deseja dar um pulinho no Crew Bar do MSC Orchestra, mesmo que só de passagem, era usar calçado fechado - pode até ser sandáias, mas tinha que ter o fecho atrás. Chinelos, nem pensar! Você acaba correndo o risco de ser convidado a se retirar. O crew card que recebemos quando embarcamos, além de servir como identidade/passaporte e chave da cabine, é o meio que utilizamos para fazer compras dentro do navio. Água é o ítem mais consumido entre os tripulantes. Observei que, debaixo da escrivaninha, a minha roommate tinha um pequeno estoque de seis garrafas d'água mineral de 3 litros cada. Ao me dar uma, conversamos rapidamente sobre coisas que eu deveria saber de antemão. Limpeza e regras de convivência dentro da cabine, como se utilizava o telefone e a quem eu deveria reportar os problemas no armário com defeito. Antes de sair, para facilitar, pregou um papel na parede com os seus horários e o do namorado. Concluí, então, que na prática eu teria dois companheiros de quarto. 
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Ás 10h, nós, e outros novatos dos demais departamentos, estávamos reunidos na sala de conferência para o safety meeting. Revisar todo o conteúdo dado durante o curso do STCW - post Mergulhando e combatendo fogo - é muito chato, e acredito que não exista outra palavra mais certa que classifique isso independente da relevância do assunto. Era o meu segundo dia, eu estava exausta. Nada que o instrutor dissesse entraria na minha mente. E foi dito e feito, depois de quase uma semana, não consegui decorar os códigos de emergência, os pontos de evacuação, entre outras coisas. Fui reprovada na prova, e tive que repeti-la. Ó, vida cruel!    

quinta-feira, 17 de março de 2011

Conhecendo local e serviço

Publicidades a parte, o MSC Orchestra é uma estrutura composta por 16 decks, com quase 300m de proa à popa - o equivalente a três quarteirões. Trata-se de um verdadeiro hotel de luxo digno de cinco estrelas. O navio comporta cerca de 3.100 passageiros, e emprega nada menos que 1 mil tripulantes. Do quinto ao sétimo deck, encontram-se inúmeros bares, dois enormes restaurantes, um teatro, um cassino e lojas de grifes/eletrônicos. No 14º deck, dois buffets, piscinas e jacuzzis (hidromassagem), além de outros bares. E, pra finalizar o resumo geral dos ambientes, no 16º deck a boate. Encerrando a visita, Anatoli nos levou ao maior e mais movimentado bar, o Savannah, dando início a um breve treinamento.
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Segurar adequadamente uma bandeja não é fácil. Em casa, treinei com o que tinha e deu pra ter uma idéia da melhor forma de distribuição do peso. Na nossa função cada um tem sua bandeja. Pode até ser considerada artigo pessoal, já que levamos pro quarto e ficamos com a mesma durante a maior parte do contrato. Cada um de nós foi colocado junto de um bar waiter/waitress diferente para aprender como se dava o serviço. Quando o passageiro faz o pedido, anotamos num manual check e solicitamos o cartão da cabine. No balcão, passamos tal cartão no Micros (máquina utilizada) a título de cobrança e, com a transação aprovada, é impresso um cheque cuja assinatura do cliente é necessária. São inúmeros os ítens, e o caminho até achar o correto e com o mesmo preço constado no bar list exige prática. 
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Pulando a parte da limpeza que realizamos naquela noite, já era quase duas e meia da manhã quando me liberaram. Antes de ir, chequei o meu horário e vi que começava ao meio dia. Me parecia razoável, até recordar que ás 10h tinha um safety meeting - reunião referente à estratégia de salvaguarda do navio. Quando cheguei na cabine, percebi que não tinha nem travesseiro e nem roupa de cama. Não havia dado tempo buscá-los em meio as adversidades relativas ao uniforme. Então, vesti o pijama vermelho de calças e mangas compridas que surripiei da mamãe, rezei e fechei os olhos. Só percebi que estava tremendo de frio quando minha roommate chegou, me agasalhou com um cobertor e ofereceu um travesseiro. Fiquei comovida com o gesto.   

Efeito dominó

Na hora de experimentar os uniformes ficou evidente que eu não estava só acima do peso. Há muito tempo já havia ultrapassado o limite traçado pelos médicos, e agora era mais uma na classe "obesidade" dentro das estatísticas. Sim, eu estava com 94 kg distribuídos em um corpo de 1,70 m. Mesmo hoje, quem vê fotos antigas não acredita que cheguei a tanto. E está certo que precisavam de alguns ajustes, mas foi desesperador perceber que só as peças masculinas cabiam em mim. Lembram quando comentei que coloquei na mala apenas calças sociais, mas que ao final eram saias que faziam parte do fardamento? Então! E para completar a única que eles tinham do meu tamanho estava com o zíper quebrado. Seguindo a orientação da Bar Secretary, fui ao costureiro na laundry, mas este não possuía nenhum da cor preta, somente brancos. O que fazer? Depois de muito sufoco, tensão e algumas reclamações, eles me liberaram para usar calça social. Até então, eu não imaginava que os problemas com o uniforme só estavam começando.  
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Com tanta correria, nem recordava mais a que horas deveríamos estar no Bar Office. Por mais esforço que eu faça não consigo puxar da memória algum momento em que eu não estivesse perdida e perturbada. De repente, já na cabine tentando me arrumar, me vi com aquela imensa mala aberta no meio do quarto sem nem saber por onde começar. Logo escutei o telefone tocar, e era a Nataliya falando com enormes pausas entre as palavras. Disse que todos estavam esperando por mim, e me perguntou quanto tempo ainda teriam que continuar a aguardar. Entendi perfeitamente o recado. Saí da cabine de cabelos soltos, sem nem conseguir colocar a gravata e os botões do colete. Ao chegar, deparei-me com todos me olhando de forma incrédula, afinal, ainda não estava devidamente arrumada. Acredito que conquistei a antipatia dos chefes do departamento naquele momento. Por mais que não fosse minha culpa os botões serem maior que as casas do colete, estava evidente que aquilo não ia passar batido. Os problemas aconteciam em efeito dominó, e se dizem que a primeira impressão é a que fica, a minha imagem estava entre as piores.

quarta-feira, 16 de março de 2011

"Bem-vindos ao inferno"

Se eu tivesse que escolher uma palavra que representasse a personalidade da minha primeira roommate, seria gentileza. Depois do primeiro baque de vê-la vestindo pijamas, esvaziando as gavetas e o armário que pertenciam ao namorado, até achei aconchegante o local. Ela me mostrou o meu lado da escrivaninha, as minhas gavetas, o estreitíssimo armário e a cama de cima. Falou que travesseiros e lençóis eu deveria providenciar na laundry. Estava tão nervosa que mostrei logo as fotos da minha família e amigos. Fiquei mais calada que o previsto, e logo me dirigi ao ponto de encontro marcado anteriormente pelo Anatoli, no Crew Bar - espaço designado aos tripulantes. Lá,  encontrei a minha colega de Fortaleza e, como tínhamos tempo, visitei sua cabine que praticamente não tinha rastros de antigos residentes, só muita poeira e um leve cheiro de naftalina. Fiquei desapontada por não termos ficado juntas. O desapego é algo que você se obriga a aprender. E depois de perceber que as pessoas não são aquilo que parecem, até pode ser mais fácil lidar com a situação imposta do que com a que optou cegamente. Em seguida, soou o alarme do exercício de emergência e esbarramos em alguns vizinhos brasileiros solidários em nos explicar que ainda não precisaríamos participar.
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Reunidos os quatro novatos no Bar Office, finalmente entendi a hierarquia da chefia. Ok. Confesso que não foi tão simples assim, mas deu pra ter uma idéia e depois confirmar com os veteranos as minhas conclusões. Anatoli era um assistente, ou melhor, Assistant Bar Manager. Ele e outros dois que ainda não conhecíamos trabalhavam rondando os bares, fiscalizando cada detalhe do estoque, balcão e serviço. Nataliya tinha a posição de Bar Secretary, e cuidava da contabilidade dos bares - caso necessário, também era escalada para fazer a ronda. E, por fim, o búlgaro mais temido do nosso departamento: Zvet, o Bar Manager. Misturando simpatia com frieza, nos perguntou o que sabíamos sobre bebidas, quais já tínhamos degustado, se conhecíamos as etapas de preparo de algum drink, e nos falou um pouco sobre a excelência no serviço que a empresa exigia principalmente durante a temporada na Europa. Nos deu algumas apostilas onde encontramos desde as leis regidas a bordo até o bar list (menu), com preços e ingredientes de cada bebida. Depois disso, nos dirigiu à sala do F&B Manager, cujo apelido era Maestro - com o passar do tempo, percebi que todos deste cargo são chamados assim, o que é bem curioso. Tratava-se do responsável pelos departamentos de comida e bebidas (superior do meu chefe). A assistente do Maestro era brasileira, e traduziu um pequeno discurso de boas-vidas versus regras do navio.  
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O momento mais traumatizante do meu dia, e vale ressaltar que ainda era o primeiro, foi quando nos levaram até a laundry para adquirirmos o uniforme. Tudo era muito longe, e é lógico que eu já estava perdida. Além de não prestativo, o brasileiro que nos guiou era atrevido, sem papas na língua. Deixou bem claro que o ambiente não era amigável e ainda falou "bem-vindos ao inferno", quando se despediu. Dois meses depois, ele conquistou "uma borracha no passado" por todas as piadinhas insolentes, quando o Bar Manager não o favoreceu na schedule (cronograma) referente ao primeiro atraque do ano no Rio de Janeiro. Ele é carioca, e seu filho era um recém-nascido que ainda não conhecia. O vendo trabalhar num bar sem passageiros, já que todos estavam em excursão pela "cidade maravilhosa", resolvi lustrar as bases de ferro do balcão sem me desanimar, afinal, era ele quem estava sendo desvalorizado como profissional e como pessoa.   

terça-feira, 15 de março de 2011

Primeiro impacto

Desculpem a demora, queridos leitores. Após uma pausa, motivada pelo feriado de carnaval (e etc.), finalmente chego ao grande momento. Um tapete vermelho, um toldo rodeado de flores proporcionando sombra e um grupo de animadores trajados de marinheiros. Esta primeira visão sabia que nada tinha a ver comigo, tratava-se apenas da recepção aos passageiros. Tanto próximo à proa (frente do navio), como mais ao centro, haviam entradas. Aos passageiros estavam destinadas: uma no mesmo nível do chão, referente ao quarto deck (vulgarmente conhecido como piso/andar); e outra no quinto deck, fazendo-se necessária uma escada. A entrada dos tripulantes localizava-se também no quarto deck, e de lá saiu um verdadeiro oficial italiano, alto e parecido com Elvis Presley, exceto pelo inglês que era muito esquisito. Ao finalizar a conversa com o rapaz da MSC que havia nos escoltado da sala da Polícia Federal no porto até o navio, atravessamos uma pequena passarela. Olhei o estreito trecho de mar que separava o concreto do aço, e quase fiz uma analogia com o passo que estava dando na minha vida, mas não tinha tempo pra reflexões, eu já estava na gangway com um homem de terno preto pedindo meus documentos. Ele, apesar de bonito, era mal encarado. Depois eu viria a descobrir que se tratava nada mais do que um security israelense, treinado pelo exército de Israel - se é que vocês compreendem o meu sarcasmo.
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Um ambiente belo e hostil. Se pararmos pra pensar, mesmo uma floresta - símbolo da harmonia entre os seres - é assim. Leva tempo até você se adaptar. Eu já estava confusa pra qual lado ficava a porta de saída, quando nos deixaram parados em frente a sala do Crew Purser. Ainda não sabia quem era, o que fazia, e se era meu chefe. Só sei que entrei na sala, escrevi num papel os bens que carregava comigo (notebook, celular, etc.), entreguei o certificado do STCW, o passaporte, o comprovante da vacina contra febre amarela e o contrato já assinado na agência em Fortaleza (esqueci de algo?). Depois tirei uma foto - horripilante, por sinal - e me mandaram esperar no corredor. Lá, conheci um rapaz de Curitiba que veio sozinho contratado para o mesmo cargo, e sofreu piores adversidades até chegar ali. Estávamos todos exaustos.
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Lembro que antes de embarcar, liguei pra casa e avisei da probabilidade de demorar alguns dias até poder entrar em contato novamente. Meu estômago e mente estavam revirados com tanta informação mal digerida. Logo apareceu um homem alto e de olhos azuis nos guiando até o Bar Office, um búlgaro chamado Anatoli. A princípio ele parecia querer nos deixar relaxados e, quando me perguntou "Como você está?", eu respondi "Tenho 24 anos". Foi a maior gozação. Minha mente estava bloqueada, mas ele parecia sensitivo e me entrevistou de forma tranquila. Em seguida, apareceu outra búlgara vestida de oficial, a Nataliya, e eles nos guiaram até nossas cabines. Cada um tinha um cartão magnético com o nome, o número do passaporte, o número da cabine, o cargo, e um espaço em branco onde seria colocado o safety number - referente a posição no exercício de salvaguarda - e o número do bote ou baleeiro. 
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Quando cheguei na minha suposta cabine, percebi que a minha roommate (companheira de cabine) morava com o namorado. De acordo com as regras do navio, só pessoas casadas ou com relação estável comprovada podem compartilhar o quarto, no entanto, existem concessões e vista grossa. E quando fazem parte do mesmo departamento é mais fácil manejar isso. O problema é que colocaram a minha colega de Fortaleza em uma cabine sozinha, então não entendi porquê cargas d'água me fizeram pivô daquela separação. Definitivamente, ainda não sabia o que me esperava. E o embrulho no estômago só aumentava.   

terça-feira, 1 de março de 2011

E finalmente...

...aterrissamos no aeroporto de Guarulhos (SP). Na ausência de qualquer auxílio por parte da agência ou da companhia de cruzeiros, ainda teríamos que saber como chegar no porto de Santos. Era por volta de quatro ou cinco horas da madrugada, e pensamos em um táxi, mas não caberia a bagagem de todos. Esperar até oito horas da manhã por um ônibus também não nos pareceu viável. Por fim, alugamos um carro. O único homem do nosso grupo já havia morado em São Paulo, e era familiarizado com as estradas da região, o que facilitou bastante. Depois de darmos uma parada pro café da manhã, perdi totalmente a noção de tempo e espaço. Inclusive, cheguei a pensar que o trajeto era superior a 150 km, enquanto não passava da metade. 
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O calor já estava infernal quando chegamos ao porto. Tivemos que lidar com a enorme bagagem, falta de estrutura e informaçãono no portão de embarque, e nem mesmo a empresa responsável pelo carro alugado sabia aonde deveríamos nos dirigir para agilizar a devolução. Isso tudo somado a fome e sede, além da disputa por espaço com a enxurrada de passageiros em espera, na minha visão assemelhava-se ao pandemônio. Demorou o bastante até encontrarmos a entrada e o ponto de encontro com os agentes da MSC. Eram inúmeros navios de cruzeiro, e tripulantes de diversos países. Passamos rapidamente pela Polícia Federal, e nos encaminharam até o navio. Jamais, em toda minha vida, tinha visto algo daquela dimensão de tão perto. Em instantes, o MSC Orchestra se tornaria minha mais nova casa.     

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ainda antes de embarcar

Despedir-me da família não foi fácil, e nunca é. A minha partida estava marcada para sábado, dia 06 de fevereiro (2010), e foi um choque para os meus pais que viajariam três dias antes. Os dois tinham planejado ir a Porto Seguro (BA) com meses de antecedência, e já tinham as passagens em mãos. Não era justo ser o centro das atenções naquele momento. Quando fui deixá-los no aeroporto, chorei bastante e lembro de ter visto o papai impedir que a mamãe olhasse pra trás. Eu sabia que os dois estavam muito emocionados, e entendia que isso era um sinal de "agora é você por si mesma". Minha familía não estava cega quanto aos riscos, problemas que poderiam surgir e eu estaria sem auxílio. Torciam pelo meu amadurecimento. Desejavam que o meu discernimento e carácter, minha moral, não vacilassem em nenhum momento. Se eu estava disposta a ficar segura, sã e salva, era para resguardar os meus pais de más notícias.
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De malas prontas, ficou acertado que viajaria com dois colegas do curso, um homem e uma mulher. Eu não conhecia bem o rapaz. Aparentemente, já não era muito jovem e me pareceu experiente e viajado, com bastante fluência em línguas. A moça, durante o curso do STCW, tornou-se mais próxima a mim. Saímos poucas vezes, e ela até teve contato com meus parentes - o que deixou meu pai mais aliviado. Formada e pós-graduada em inglês, já estava na casa dos 30 anos. Nós três fomos selecionados para o mesmo cargo, e isso meio que nos tornava cúmplices ou parceiros. Senti-me segura com toda aquela familiaridade. 
Na hora da despedida, fiquei surpresa com a fidelidade dos meus amigos. Os mais próximos realmente estavam lá, aos trancos e barrancos, mas estavam. Vi até lágrimas rolarem, mas foi ao abraçar um dos meus irmãos que desabei. Senti nos ombros dele a responsabilidade de substituir o abraço dos nossos pais, e a aquele velho "boa sorte, e te cuida" deixa mesmo de ser piegas quando realmente precisamos dele.    

Tudo dentro da mala - Parte II: O básico

Imaginemos uma viagem pouco mais longa que o convencional, tanto em distância, duração e permanência. Seguindo esse raciocínio, fica mais fácil nos equiparmos ao menos para os dois primeiros meses quanto a higiene pessoal. Deve-se levar em conta que ainda não temos idéia de quando poderemos descer do navio e fazer compras. O primeiro bimestre a bordo é, principalmente, um período de descobrimento. E na falta de tempo para se ambientalizar, é bom não termos que nos preocupar em comprar creme de cabelo. Mesmo em tal situação, fique de olho no exagero, afinal, ninguém quer passar pelo check-in e pagar sobrepeso por causa de alguns vidros de shampoo.
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Sabe aquela quantidade de roupas e sapatos que levamos em uma semana férias? Um quarto dela é o básico, e até suficiente, para quem vai trabalhar a bordo. Um short e uma calça jeans, um punhado de blusas leves, uma jaqueta, um casaco de tecido mais fino e um suéter. Por alto, a temperatura do ar condicionado varia entre 17º e 22ºC. No entanto, as cidades onde os navios atracam geralmente estão em pleno verão, com o sol escaldante - o que sugere um traje de banho. Nada de salto alto, ou algo muito sofisticado. Depois de passar horas em pé, o conforto vence a estética, então, opte por levar um par de chinelos, duas sandálias rasteiras e um outro tênis mais descolado que o do uniforme - importante para fazer longas caminhadas e se exercitar. Na área de tripulantes existe uma academia não tão equipada, mas que serve aos que ainda têm energia pra gastar - neste caso, incluam dois conjutos de malha. Não podemos esquecer de levar dois pijamas (calças e mangas compridas), e a roupa íntima (quantidade a critério). 
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Outras coisas das quais considero essenciais: fotos da família e dos amigos, dicionários de inglês e italiano, a câmera fotográfica e o notebook. Na minha mala incluí dois livros da doutrina espírita - da qual sou seguidora -, filmes e séries gravadas, um pen-drive e fones de ouvido. Depois de arrumar tudo isso, pode até ser que sobre um espacinho para o "algo a mais" que fará toda a diferença pra você.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Tudo dentro da mala - Parte I: O que é prioridade

Geralmente, um contrato de vida a bordo dura em torno de nove meses. Somente dentro do navio, após os primeiros dias, é que percebemos o que seria importante ou o que colocamos de supérfluo dentro da mala. Já que o meu porto de embarque era em Santos (SP), ainda tinha que me preocupar com o sobrepeso no check-in. Uma das condições impostas sobre a vaga, era que eu mesma deveria pagar a passagem aérea - lembrando que moro em Fortaleza (CE). Me senti acuada, afinal, investi em um curso, na taxa da agência de recrutamento, além das coisas que levaria. Não era como se eu pudesse voltar atrás, já sabia que não ia surgir outra oportunidade na qual a empresa financiaria o meu ticket. Ao todo, gastei por volta de 2 mil reais, e ainda ficaram algumas contas que meus pais assumiram. Confesso que não fiz um planejamento de custos, o que foi bem irresponsável se o meu objetivo era guardar dinheiro. No entanto, quando você sente que está indo morar em outro local pela primeira vez, bate um pânico, e cada coisinha que antes era desnecessária passa a ser essencial em caso de emergência. Prender a respiração e contar até dez, ajuda. 
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Respondendo a pergunta de todos, "O que devemos levar na mala?", o primeiro passo é pensar no que você vai precisar para o trabalho. Ele ocupa boa parte do dia, e mal podemos andar pelo navio se não estivermos devidamente fardados. Infelizmente, só contamos com a agência para uma orientação, mas esta também pode se enganar. Me disseram que faria parte do meu uniforme de Bar Waitress, calça social preta, por exemplo. Comprei cinco calças, um exagero. Quando embarquei, descobri que eram saias que se usava. Outra coisa que fazia parte do meu uniforme, eram camisas brancas de mangas compridas. Cuidado! Não adianta comprar algo que não seja igual ao que é utilizado. No navio mesmo eles possuem tudo isso, então, vamos às coisas que não encontramos por lá.
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Meias branca e pretas sem estampas - esta última, para calçado social. No caso das moças que usarão saias, meia-calça fina preta. Garotas, vocês podem levar tanto as mais transparentes (fio 15), quanto as grossas (fio 40), e aconselho por volta de 15 pacotes. Acreditem, não é muito, e vocês terão oportunidade de comprar mais nos arredores do porto. Mesmo quando o rasgo é mínimo, se percebido por qualquer superior, eles te mandam trocar. Dependendo do humor deles, até te passam um sermão por negligência com o uniforme.
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Dois sapatos pretos com um pequenino salto quadrado - este último, é exigência sem escapatória para o sexo feminino. Se você encontrar um sapato preto mais brilhoso, no mesmo estilo dos outros, compre. Existem as chamadas "noites de gala", e o calçado vendido no navio para tais dias quase destruiu meus pés. Caso seja designado para trabalhar na piscina, não podemos esquecer dos tênis brancos (sem marcas e outras cores aparecendo), um par é o suficiente.
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Para quem fica em pé da hora que acorda, até o momento que vai dormir, não existe coisa mais importante que a preocupação com os membros inferiores. Alguns cremes de massagem, e outras alternativas ortopédicas, são válidos. Na verdade, recomendo o preparo de uma necessaire com remédios de todos os tipos. Analgésicos, antialérgicos, gelol, gase, band-aid (etc) e, se você for como eu que tem sérios problemas de garganta e sinusite, peça ao seu médico que faça um guia de medidas profiláxicas. Antes de embarcar, meu otorrinolaringologista receitou-me desde medicamentos para evitar os resfriados que me levariam às crises, até antibióticos para as situações mais graves das quais ele já conhecia - é importante levar a receita a bordo. Durante o processo de seleção, a agência falou sobre um "seguro saúde". Infelizmente, ainda é um sistema falho do diagnóstico ao prognóstico, incluindo os medicamentos utilizados. Durante a temporada brasileira, até por conta da língua, é mais seguro se consultar em terra. Por isso, caso tenha, mantenha o convênio médico.      

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Quem muito fala, pouco faz

Os meses de dezembro de 2009, e janeiro de 2010, passaram numa lentidão incompreensível. A espera por uma vaga era quase infernal. Vez por outra, precisava de um calmante que me ajudasse a dormir. Não suportava mais responder qualquer pergunta que fosse sobre o que faria do meu futuro, e o que diabos eu estava indo fazer num navio. Assemelho a minha situação ao dos que estudam para concursos. "Então, o que você faz?", e em resposta, "Eu? Ah, eu tou estudando pra concurso...". A diferença é a ausência de seriedade com a qual sou interpretada. Eu tenho um sonho, mas preciso de dinheiro para dar um passo mais ousado em direção a ele. "E você não poderia conseguir um emprego por aqui mesmo?", alguns me questionaram. Aí é que tá! Ser tripulante é um trabalho, não um emprego. Há quem goste e se acostume com essa vida. Há quem precise dela também. No entanto, considero emprego onde há possibilidades, e você tem que dar tudo de si. Amá-lo para ser amado. Não se faz carreira em um trabalho, e você não precisa necessariamente gostar dele. Então, se o objetivo é ganhar dinheiro e um pouco de marra que só a vida pode nos impor, por que não arriscar?
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Alguns colegas de turma e outros conhecidos, pouco a pouco, embarcavam. Confesso que fiquei pasma quando, usando uma desculpa não muito diferente da "meu cachorro comeu a tarefa de casa", uma das pessoas mais bem esclarecidas sobre a vida a bordo que conheci, pulou fora do navio após uma semana. Sempre me disseram que a tendência de quem muito fala, é pouco fazer. Essa é uma das verdades que se confirmaram ao longo do meu contrato.
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Não lembro ao certo quando o telefone tocou. Acredito que de tanto atormentar o pessoal da agência, não dava pra ser esquecida facilmente. Na última semana de janeiro, me ligaram avisando que estaria embarcando no dia 06 de fevereiro, no porto de Santos-SP. Sim, eu tinha menos de dez dias para organizar a minha trouxa e começar essa tão esperada "nova fase". Os teimosos ainda perguntavam: "E você não tem medo de deixar tudo para trás?". Eu sorria e, ás vezes, respondia: "Tudo o que tenho de precioso está na mente e no coração. O resto do que preciso, já está na mala!".

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mergulhando e combatendo fogo

O curso que garantia o STCW, já comentado no post anterior, aconteceu durante cinco dias (manhã e tarde). Foram três dias de aulas teóricas estudando o SOLAS (Safety Of Life At Sea) – a base da Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida no Mar -, e o resto da semana ocupada em aulas práticas, sendo uma no Centro de Treinamento de Brigadas de Incêndio, aprendendo os fundamentos de prevenção e combate ao fogo a bordo, e a outra no Clube Náutico Atlético Cearense, exercitando o salto na piscina a uns 8m de altura e simulando a vida dentro de uma balsa inflável. Noções de primeiros socorros também é um assunto que se destacou durante as aulas.  
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Deu pra ter uma idéia do tipo de pessoa que resolve embarcar. De um modo geral, a classe se dividia entre os que buscam aventuras, os que não tinham noção de onde estavam pisando, e os que precisavam do dinheiro e iam pra pegar no pesado mesmo. Todos estavam muito ansiosos e falantes. Até então, achava que só pessoas com o básico de inglês poderiam embarcar, mas acabei por encontrar quem mal tivesse completado o ensino fundamental. Essa diversidade é algo positivo. Entretanto, era triste ver pessoas com formação e experiência optando por limpar o chão. Ouvindo suas histórias e conhecendo um pouco de suas personalidades, dava para entender o por quê da decisão de embarcar, e até especular quem sobreviveria, ou não. 
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Desde a entrevista, ficou acertado que eu entraria na vaga de Bar Waitress (garçonete designada para os bares). De acordo com a agência, tratava-se da melhor disponível para quem era quase fluente em inglês e tinha o básico de francês. Era um serviço que tinha o melhor salário e contato direto com os passageiros, o que podia render gorjetas. O fato é que, junto com a vaga de Waiter (garçom designado para os restaurantes), essa era a melhor opção que a agência de recrutamento daqui de Fortaleza tinha.  As vagas para trabalho no shopping do navio, recepção, equipe de animação, guias de excursão, entre outros, ainda são exclusivas para os agenciadores da região centro-sul do país.
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E, novamente, entrei em modo de espera. Não havia tanta procura por garçonetes, quanto precisavam de gente pra limpar o navio.  

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Consultando o tarólogo...

Da mesma forma que para os futuros tripulantes não há garantias de sucesso e adaptação a bordo, a agência de recrutamento também tem uma visão embaçada sobre o futuro daquele candidato. Não é como se facilmente pudéssemos voltar pra casa após um dia duro de trabalho. Principalmente para quem mora distante dos portos por onde os navios passam, desistir do contrato é um investimento que custa caro. Quando fui na agência Rosa dos Ventos (em Fortaleza-Ce), percebi que era uma boa candidata por me comunicar bem e falar outras línguas. No entanto, senti que o entrevistador ficou na dúvida se eu suportaria a pressão, o trabalho braçal e a carga horária. Mas eu estava determinada a superar tudo, e com inúmeros argumentos e tom de voz resoluto, mostrei por A+B que eu era uma boa opção. Depois de passar por essa fase, restava-me esperar pelo STCW (Standards of Training, Certification and Watchkeeping), um curso básico e obrigatório de segurança e sobrevivência em alto-mar. De acordo com a agência, adquirindo este certificado e o resto da documentação necessária, só dependia de mim querer ou não embarcar. O problema é que não era sempre que ministravam esse curso por aqui. Vinha alguém autorizado pela Capitania dos Portos (Marinha do Brasil), lá do Rio de Janeiro, e ainda não havia data confirmada para o resto do ano de 2009.
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Em outubro, já sabendo dos meus planos de embarque, a empresa na qual trabalhava me deu xeque-mate. Isso não foi de todo ruim. Financeiramente, eu possuía reservas e não havia contas que dependessem do meu dinheiro. Só tinha que segurar a barra dentro de casa, a pressão emanada pelos meus pais sobre o que faria do meu futuro. Tentávamos conversar a respeito, mas eu acabava apelando para desculpas e subterfúgios justificando o que mais parecia férias. Eu estava desempregada, a espera de algo que não tinha data. Para completar, minha vida pessoal também não estava nada bem. Mesmo assim, resolvi encarar a crise de frente e ter paciência. Afinal, já era quase final do ano, e procurar algum tipo de trabalho temporário não me renderia fruto algum que valesse a pena. Esse argumento era pra convencer apenas a mim mesma. 
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Acredite se quiser, cheguei a visitar um tarólogo. Não que eu dê a isso crédito piamente - quem me conhece sabe que sou fã de horóscopo também -, mas as cartas servem como terapia alternativa. Se não quiser pagar um psicólogo, vá ao tarólogo. Se a pessoa for boa mesmo, pode te dizer coisas sobre o seu passado, presente e futuro que, no mínimo, te farão refletir. Além da diversão garantida, é claro. Não é sempre que nos encontramos com alguém que pode, ou não, ter a chave das portas da esperança. 
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Por fim, depois de quase dois meses de espera, veio a data do curso e as coisas começaram a se encaixar.    

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Um tiro no escuro

Foi em setembro de 2009, durante um almoço, que ouvi de um antigo colega sobre a seleção de tripulantes para MSC Cruzeiros. A notícia de sua inscrição, e de que vários amigos seus já haviam embarcado, chegou-me de imediato. Não tinha como não limpar os ouvidos e ficar atento àquele assunto, do qual ele explanava com muitos detalhes e empolgação contagiante. Passaram-se anos desde o nosso último encontro, mesmo assim, ele olhou em minha direção e afirmou com convicção que uma aventura desse tipo combinava comigo. Isso mais me pareceu mensagem divina enviada por um quase desconhecido. Obviamente, fiquei encantada com a possibilidade de colocar tudo dentro de uma mochila, jogar o resto pro alto, e partir em busca de dinheiro e aventuras. De acordo com o que ele falava, o salário base seria por volta de U$1500,00, e não havia custos dentro do navio, como alimentação e moradia (aluguel, luz, água, etc.). Além dessas vantagens, ele relatou tintim por tintim sobre festas e passeios que seus amigos faziam, principalmente, durante a temporada na Europa. A carga horária é que era aparentemente estranha. Onze horas de trabalho, sete dias por semana, em um contrato de nove meses. Sim, isso mesmo. Sem folga.  
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No caminho de volta pra casa, enfurecida com o trânsito, comecei a avaliar a minha situação. Havia me formado há menos de três meses, e a empresa na qual estava trabalhando não pretendia me empregar de forma adequada. É muito comum na área de comunicação usarem e abusarem de freelancers. Abrindo parênteses, acredito que o quadro do mercado logo mudará por conta da credibilidade, mas também não posso ficar à mercê disso. O fato é que eu também precisava de mudanças e, no instante em que contabilizava quanto tempo demorava para ir e voltar do trabalho, percebi que onze horas de serviços diários não era tanto assim. Já que desperdiçamos horas preciosas dentro de um ônibus num engarrafamento, não daria na mesma utilizar esse tempo pra trabalhar mais? Era algo para se pensar.
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Faz parte da minha personalidade tomar decisões por impulso. Entretanto, mesmo que eu pensasse e repensasse, era um tiro no escuro. Não dá para adivinhar como é a vida a bordo, como seria o seu chefe, e com quem você vai dividir a cabine onde vai dormir. O que me restava era confiar (desconfiando) na experiência dos ex-tripulantes e na agência de recrutamento. Então, no dia seguinte ao do almoço, corajosamente fui na agência Rosa dos Ventos. E a partir daí, começou a minha saga em busca de uma vaga para embarcar.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Prefácio: Dramas de uma recém-formada

Outro dia, vi meu afilhado de apenas cinco anos pegar sua mochila - mais pesada que ele mesmo - e se dirigir ao reforço escolar. Com apenas esta idade, ele prestará algum tipo de vestibular pra ingressar em uma escola renomada por aqui. Isso me fez lembrar o começo de tudo. Passamos a vida inteira estudando pra que, somente depois, tenhamos alguma autonomia, e possamos realizar o mínimo de um punhado de sonhos. Durante esse período de treinamento, do qual não somos nada além de estudantes, dúvidas sobre o que faremos quando nos libertarmos são frequentes. E o princípio de que liberdade é poder, nos acelera em busca da independência. Entretanto, o famoso freio "responsabilidades" nos faz querer refletir um pouco mais, e adiar a tomada de decisões estendendo a vida acadêmica em uma pós-graduação, mestrado, ou fazer uma longa viagem/intercâmbio a procura de respostas. O que aconteceu comigo não foi nada diferente disso.
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Ter um grupo de amigos mais velhos, pode ser bastante útil na hora de visualizar o seu "eu" daqui a um ou dois anos. Minha mãe sempre dizia que é preciso trilhar o seu próprio caminho, mas que não é necessário se jogar de um penhasco pra saber que vai se esborrachar no chão. Ou seja, podemos aprender um pouco com as experiências alheias, e escapar de enfiar sempre o pé na jaca. Quando me formei, já estava perdida na selva do mercado de comunicação. As possibilidades eram muitas, e mesmo que exigisse uma grande dose de dedicação, me sentia preparada para desviar de todas as arapucas e comer todos os sapos, até mostrar o meu valor como profissional. O problema é que ter muito também pode não ser algo ideal. A dúvida cresce como uma bola de neve. Será que eu gostaria mais da área de Rádio e TV, ou seria Assessoria? Talvez combinasse melhor com Marketing Cultural, ou quem sabe devesse seguir profissão docente. Por fim, decidi transformar o meu hobby em projeto de carreira (logo contarei do que se trata). No entanto, a vida não gira em torno só de trabalho.
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Um ano antes de me graduar, uma boa amiga mudou-se para Nova Zelândia. Ao menos, caso quisesse fazer um intercâmbio, já não teria tantas dúvidas sobre qual país seria. Após a colação de grau, o desejo de viajar persistia, mas faltava verba pra financiar a empreitada. Em busca de uma solução, chegou-me aos ouvidos a possibilidade de viver a bordo, trabalhando em um navio de cruzeiro. Quase tudo a bordo: como isso funciona e como transformou a minha vida, é o que pretendo contar a vocês.
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Sejam bem-vindos!