"A verdadeira viagem não está em sair a procura de novas paisagens, mas em
possuir novos olhos" (Marcel Proust)







quarta-feira, 23 de março de 2011

Rotina - Parte II

No cronograma constava que eu deveria começar ao meio dia no El Sombrero, o bar mais movimentado da piscina. Como o meu uniforme estava no alfaiate para ajustes, a Bar Secretary enviou-me ao buffet La Piazzeta. Adorei a idéia porque o clima lá fora estava no botão "fogo alto", no ápice mesmo do calor. Ainda faltavam trinta minutos até que abrissem o local para os passageiros almoçarem, dando tempo de conversar com o Bartender indonesiano a quem eu deveria me reportar, além de relembrar como se mexia no Micros. Logo apareceu uma garçonete brasileira que me mostrou como se dava o serviço por ali, e que diferente dos outros bares do navio o Piazzetta não servia drinks e cocktails. O ambiente era dividido em duas estações, sendo uma de responsabilidade do nosso departamento, e a outra dos Waiters do restaurante. Depois dela afirmar que estávamos na melhor sala de aula para se acostumar com o serviço, e eu comprovei a veridicidade da informação, passei a ver com outros olhos o incidente relativo ao fardamento. Os passageiros vão para almoçar e fazem pedidos simples, entre sucos, refrigerantes, água e cerveja. "Com, ou sem gelo" é a única coisa da qual precisava me lembrar de perguntar.
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Entre 15h30 e 16h, o buffet fechava. Independente de estar escrito no cronograma que eu deveria ficar até ás 17h, por exemplo, era comum sermos remanejados. Como o MSC Orchestra é um navio enorme e repleto de bares, e não sei dizer até que ponto tratava-se de desorganização da chefia, cheguei a trabalhar em mais de seis num só dia. Ás vezes, era enviada a um local desnecessariamente e o Bartender me pedia para retornar. Aos poucos fui perdendo a inocência em acreditar que o Bar Manager preparava a schedule de acordo com o tipo de cruzeiro, observando os focos de maior movimento. O que ele utilizava mesmo era o famoso Ctrl+C e Crtl+V, deixando o sufoco do remanejamento para os Assistants. Mesmo não tendo o uniforme da piscina, e este assunto já era de conhecimento geral, meu nome continuava na planilha do El Sombrero confirmando a estranha negligência com a elaboração dos horários de toda a equipe do departamento. Parando pra pensar, em tese, se eu estava no Sombrero a minha ausência era um desfalque, então eles chamariam de outro bar uma pessoa para ocupar a lacuna. O problema é que este alguém também sairia de onde estava escalado. Resumindo, a crise era cíclica.  

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