"A verdadeira viagem não está em sair a procura de novas paisagens, mas em
possuir novos olhos" (Marcel Proust)







terça-feira, 12 de abril de 2011

Alimentação de tripulante – A máfia da comida

Findadas as dúvidas em outros posts, já é de conhecimento geral o abismo que separa a comida dos passageiros do que é servido nos bastidores. Imagino a curiosidade de todos em saber o que acontece com o que sobra no buffet e no restaurante a la carte. Diariamente, toneladas e toneladas de comida passam por um processo de limpeza e trituração até serem despejadas no mar, a milhas de distância da costa. O mesmo acontece com o lixo e dejetos. Não sou especialista nisso, mas é bom saber que existem várias leis em favor do meio ambiente determinando os tipos de resíduos, a espessura que devem estar após triturados, e a que distância devem ser largados.
Por mais absurdo que pareça, alimentação é um dos tópicos mais polêmicos a bordo. Para começo de conversa, é proibido conservar comida na cabine. Havendo inspeção, e dependendo do que possa ser encontrado, é uma advertência propícia ao desembarque. O ideal é que a alimentação servida no Crew Mass (estilo self-service) fosse adequada. Infelizmente, nem o menos dos exigentes com comida aguenta muito tempo em pé sem correr à lanchonete mais próxima do porto, ou apelar para complexos vitamínicos. Para os que trabalham no buffet e restaurante é mais fácil lidar com a situação. Contanto que não sejem pegos por um oficial ou superior - e estes costumam ser nada compreensivos - é possível comer disfarçadamente dentro da pantry (despensa de navio). Aos que não têm esse acesso, existe o sistema da máfia da comida. Seja por amizade, influência, ou troca por outro tipo de máfia, é bastante comum tal irregularidade.
Dentro dos bolsos, por debaixo das calças e saias, amarrada nos tornozelos, em saco de roupas sujas, não importa a forma. Os tripulantes evoluem com novas idéias e maneiras de transportar comida – entre outras coisas – e, como já dizia Goethe, provando que “Poderosa é a lei; mais poderosa, contudo, é a necessidade”.   

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Break/Time Off


Relembrando o que foi esclarecido nos primeiros posts, não existe dia de folga (day off). Principalmente nos momentos em que o navio está em alto mar, todos os setores estão em plena atividade. Aos que não possuem familiaridade com a linguagem desse sistema de trabalho, Break é considerado o espaço de tempo entre um turno e outro. Pode ser de 10 min, ou de 4 horas. Se não há interferência no cronograma, esse período é contabilizado apenas como uma pausa.  
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Em alguns departamentos os tripulantes costumam trabalhar as 11 horas quase que ininterruptas, com direito a uma ou duas horas de break. Por vezes, isso acontece de forma fatiada (30 minutos aqui, 30 minutos ali), fato bastante comum nos cargos relacionados à limpeza e no Buffet. Nos departamentos Bar e Restaurante os breaks são considerados mais interessantes, até porque a schedule (cronograma) não costuma ser fixa. Então, no caso, depende mais da chefia e da sorte.
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Por outro lado, aos que embarcam com o desejo de aproveitar a possibilidade de trabalho versus conhecer o mundo, fico feliz em dizer que existem os considerados presentes divinos: Time Off. "Capo, por favor me libera pra descer no próximo Pireus!", é um exemplo de frase que faz parte do cotidiano de um tripulante. É raro a chefia tomar a inciativa de te liberar da lavoura, mas isso também existe, e você pode conseguir a graça de trabalhar umas horinhas a menos. Algumas pessoas fazem boas relações a bordo, conhecem chefias com influência e a vida pode se tornar bem mais agradável (em alguns casos, apenas suportável). Mas é sempre bom checar a custo de quê vem essa troca. Ninguém quer sair de casa João e voltar Joana, ou mudar de nome pra Madalena por conta de, deixe-me lembrar, "horinhas a menos". É difícil julgar, costumo dizer que para manter os valores morais intactos e não ofender ninguém, o melhor é sair pela tangente. É uma estratégia da qual a técnica só a vida ensina. Como boa aluna que sou, aprendi.

terça-feira, 5 de abril de 2011

A título de registro - Dança do cogumelo na Espanha

Dando uma geral nos meus arquivos, encontrei um video curtinho feito por mim em Málaga (Espanha) e senti uma enorme vontade de compartilhar com vocês. De fato, pretendo falar mais sobre os países por onde passei enquanto estive a bordo, então considerem isso uma prévia. Nesta "obra cinematográfica" (pausa para risadas), apresento muito resumidamente a Catedral de Málaga. E sinto muito aos que gostariam de mais detalhes - fiquei dando voltas com a cabeça procurando por uma placa informativa - o jeito é apelar ao pai dos distraídos, Google.
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Para compreender o subtítulo da postagem, só conferindo o video. De antemão, agradeço ao dançarino pelo entretenimento.



Sign Off

Algo que muitos temem - e outros procuram - é o desembarque precoce. A expressão "Sign Off" tem como significado pedido de desembarque, e isso pode ser solicitado pelo tripulante por motivos pessoais, ou quando o mesmo acata a decisão tomada pela gerência de se retirar do cargo. Outra forma de Sign Off da qual os tripulantes são obrigados a assinar, é quando a pessoa em questão atinge a quota máxima de Warnings (advertências) expressa no manual de regras a bordo.
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Outro "Parênteses":

Por motivos que eu prefiro não revelar no momento, e infelizmente não dá pra adiar mais, venho aqui anunciar que estou novamente em casa. Infelizmente as coisas não acontecem sempre como planejamos, e depois de uma semana a bordo estou de volta. Imagino inúmeros pontos de interrogação, e confesso que não tenho resposta pra tudo. Quando ficar claro se vou embarcar novamente ainda nesta temporada, ou não, eu aviso. Por enquanto, evitarei falar a respeito ou iniciar as minhas divagações filosóficas, incluindo pensamentos que começam com o "nada acontece por acaso". Desejo a compreensão de todos, e obrigada pela torcida!