"A verdadeira viagem não está em sair a procura de novas paisagens, mas em
possuir novos olhos" (Marcel Proust)







segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ainda antes de embarcar

Despedir-me da família não foi fácil, e nunca é. A minha partida estava marcada para sábado, dia 06 de fevereiro (2010), e foi um choque para os meus pais que viajariam três dias antes. Os dois tinham planejado ir a Porto Seguro (BA) com meses de antecedência, e já tinham as passagens em mãos. Não era justo ser o centro das atenções naquele momento. Quando fui deixá-los no aeroporto, chorei bastante e lembro de ter visto o papai impedir que a mamãe olhasse pra trás. Eu sabia que os dois estavam muito emocionados, e entendia que isso era um sinal de "agora é você por si mesma". Minha familía não estava cega quanto aos riscos, problemas que poderiam surgir e eu estaria sem auxílio. Torciam pelo meu amadurecimento. Desejavam que o meu discernimento e carácter, minha moral, não vacilassem em nenhum momento. Se eu estava disposta a ficar segura, sã e salva, era para resguardar os meus pais de más notícias.
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De malas prontas, ficou acertado que viajaria com dois colegas do curso, um homem e uma mulher. Eu não conhecia bem o rapaz. Aparentemente, já não era muito jovem e me pareceu experiente e viajado, com bastante fluência em línguas. A moça, durante o curso do STCW, tornou-se mais próxima a mim. Saímos poucas vezes, e ela até teve contato com meus parentes - o que deixou meu pai mais aliviado. Formada e pós-graduada em inglês, já estava na casa dos 30 anos. Nós três fomos selecionados para o mesmo cargo, e isso meio que nos tornava cúmplices ou parceiros. Senti-me segura com toda aquela familiaridade. 
Na hora da despedida, fiquei surpresa com a fidelidade dos meus amigos. Os mais próximos realmente estavam lá, aos trancos e barrancos, mas estavam. Vi até lágrimas rolarem, mas foi ao abraçar um dos meus irmãos que desabei. Senti nos ombros dele a responsabilidade de substituir o abraço dos nossos pais, e a aquele velho "boa sorte, e te cuida" deixa mesmo de ser piegas quando realmente precisamos dele.    

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