"A verdadeira viagem não está em sair a procura de novas paisagens, mas em
possuir novos olhos" (Marcel Proust)







segunda-feira, 21 de março de 2011

O tic-tac dentro do navio

Na vida de um tripulante não existe dia da semana, e nem calculamos o tempo de modo convencional. Durante a temporada no Brasil, por exemplo, sabia-se que o navio aportava em Santos aos sábados, dias de embarque e desembarque. As noites de domingo destacavam-se por conta da festa do comandante (Captain's Party), que para nós significava "uniforme de gala" e a possibilidade de passar uma eternidade segurando bandejas com 18 copos, entre taças de espumante e martini. No período em que estávamos na Europa, conto nos dedos de uma só mão quem conseguiu visitar Corfú (na Grécia). É que todas as quartas-feiras tínhamos o General Drill - Exercício de Emergência Geral obrigatório aos tripulantes -, e este acontecia pela manhã quando a maioria dos passageiros estavam conhecendo a cidade. Geralmente, um navio de cruzeiro fica atracado durante o período da manhã ou da tarde (raramente os dois juntos), e o Drill começava exatamente por volta de 10h30 am, demorando tempo suficiente para nos aprisionar. Era quase impossível sairmos. Felizmente, particularmente a Grécia não me interessava. Depois de passar por Atenas, considerei minha dose de templos satisfatória, decidindo não mais sair com tanta frequência nesta região.  
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Outra coisa que nos recordava em qual dia da semana estávamos era o Daily Cocktail, a bebida promocional do dia. O passageiro perguntando, é um verdadeiro mico "indo e voltando" não saber. Se de supetão alguma chefia te pega sem ter a resposta, inclusive os ingredientes do drink e da garnish (enfeite do cocktail), o resultado ultrapassava o "pega no pé". Dependendo do Manager, é marcação cerrada mesmo, e com toda razão. É natural ter algum desprezo pelo chefe, e não me interpretem mal, isso existe em qualquer empresa e emprego. Mas o que não entendemos, e no navio a "revolta" era maior pela pressão de não ter aonde extravasar, é que devemos nos responsabilizar por nossos erros e negligência. Claro, a bordo não existe história de conversinha no Rh (setor de Recursos Humanos), então o efeito costuma ser aniquilador.          
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Logo que embarquei, descobri uma excelente maneira de contabilizar os dias até que meu contrato findasse. Trata-se de um cronograma que enumera os cruzeiros, o que veio bem a calhar aos distraídos como eu. A bordo, é bem comum as pessoas inciarem frases com um "No cruzeiro passado", ou "Faltam três cruzeiros para o meu desembarque", e ainda "No cruzeiro temático 'tal'". É um estilo peculiar de avaliar o tempo, no entanto o esperado, já que todo o cotidiano de um tripulante está condicionado à rotina do navio.

2 comentários:

  1. Carlinha Massei (orkut)23 de março de 2011 às 16:06

    Que bom q vc n vai abandonar o blog ... eh mt interessante .... poste fotos tbm ...Boa sorte na sua nova jornada , que concerteza vai dar td certo ... e n eskeça de postar sempre

    bjos

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  2. Obrigada, Carla! Confesso que só passei a tirar fotos quando cheguei na Europa. Mas não se preocupe! Logo todos poderão visualizar detalhes do navio!

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