Foi em setembro de 2009, durante um almoço, que ouvi de um antigo colega sobre a seleção de tripulantes para MSC Cruzeiros. A notícia de sua inscrição, e de que vários amigos seus já haviam embarcado, chegou-me de imediato. Não tinha como não limpar os ouvidos e ficar atento àquele assunto, do qual ele explanava com muitos detalhes e empolgação contagiante. Passaram-se anos desde o nosso último encontro, mesmo assim, ele olhou em minha direção e afirmou com convicção que uma aventura desse tipo combinava comigo. Isso mais me pareceu mensagem divina enviada por um quase desconhecido. Obviamente, fiquei encantada com a possibilidade de colocar tudo dentro de uma mochila, jogar o resto pro alto, e partir em busca de dinheiro e aventuras. De acordo com o que ele falava, o salário base seria por volta de U$1500,00, e não havia custos dentro do navio, como alimentação e moradia (aluguel, luz, água, etc.). Além dessas vantagens, ele relatou tintim por tintim sobre festas e passeios que seus amigos faziam, principalmente, durante a temporada na Europa. A carga horária é que era aparentemente estranha. Onze horas de trabalho, sete dias por semana, em um contrato de nove meses. Sim, isso mesmo. Sem folga.
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No caminho de volta pra casa, enfurecida com o trânsito, comecei a avaliar a minha situação. Havia me formado há menos de três meses, e a empresa na qual estava trabalhando não pretendia me empregar de forma adequada. É muito comum na área de comunicação usarem e abusarem de freelancers. Abrindo parênteses, acredito que o quadro do mercado logo mudará por conta da credibilidade, mas também não posso ficar à mercê disso. O fato é que eu também precisava de mudanças e, no instante em que contabilizava quanto tempo demorava para ir e voltar do trabalho, percebi que onze horas de serviços diários não era tanto assim. Já que desperdiçamos horas preciosas dentro de um ônibus num engarrafamento, não daria na mesma utilizar esse tempo pra trabalhar mais? Era algo para se pensar.
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Faz parte da minha personalidade tomar decisões por impulso. Entretanto, mesmo que eu pensasse e repensasse, era um tiro no escuro. Não dá para adivinhar como é a vida a bordo, como seria o seu chefe, e com quem você vai dividir a cabine onde vai dormir. O que me restava era confiar (desconfiando) na experiência dos ex-tripulantes e na agência de recrutamento. Então, no dia seguinte ao do almoço, corajosamente fui na agência Rosa dos Ventos. E a partir daí, começou a minha saga em busca de uma vaga para embarcar.
"quanto tempo demorava para ir e voltar do trabalho, percebi que onze horas de serviços diários não era tanto assim. Já que desperdiçamos horas preciosas dentro de um ônibus num engarrafamento, não daria na mesma utilizar esse tempo pra trabalhar mais?"
ResponderExcluirInteligentíssima! A percepção de detalhes como esse é que nos permite sair dessa roda vida em que ficamos sem saber o porquê. É a Matrix. Essa foi sua grande sacada. Inteligente como você só. Como sempre foi. Fico feliz em saber. E orgulhoso por poder dizer: Ei, gente, conheço essa menina viu!
=D